Pinóquio

No panorama da literatura italiana do século XIX, “As Aventuras de Pinóquio” transcenderam as páginas escritas e tornaram-se parte permanente do imaginário coletivo. Foram escritas por Carlo Collodi, nascido em Florença em 1826, cujo verdadeiro nome era Carlo Lorenzini.

Após vida marcada por dissabores, incluindo exército toscano durante as guerras de independência italiana, Collodi encontrou a verdadeira vocação nas palavras. Em 1881, iniciou então, a série de seu melhor trabalho no jornal infantil italiano “Giornale per i Bambini”, onde fez emergir o travesso boneco de madeira com peripécias que encantariam e provocariam reflexões em leitores de todas as idades: Pinóquio.

No entanto, “As Aventuras de Pinóquio” iam além de mera narrativa infantil: eram exploração profunda da condição humana e da sociedade italiana do século XIX. Os personagens que povoavam a história, como o Grilo Falante e a enigmática Fada Azul, transcenderam suas funções narrativas para se tornar arquétipos vivos das complexidades da vida e da sociedade. A trama original abordava questões como pobreza e corrupção através das aventuras do protagonista Pinóquio, que o faziam amadurecer e compreender as responsabilidades da vida.

Collodi inicialmente planejava final trágico para Pinóquio, refletindo as consequências das más ações. Estava previsto para o capítulo 15, quando a raposa e o gato enforcariam Pinóquio em um grande carvalho para roubar as moedas de ouro. Mas os jovens leitores não concordaram com este final e enviaram inúmeras cartas para o jornal, pedindo mais capítulos de Pinóquio. Acredita-se que Collodi terminaria a história de Pinóquio com a lição de moral: algo de muito ruim vai acontecer se você for um mau menino. E a demanda dos jovens leitores por mais capítulos levou-o a continuar a história, e Pinóquio recebeu segunda chance: um renascimento simbólico com arrependimento e perdão.

A versão da Disney, lançada em 1940, adaptou a história de Collodi para o público infantil, suavizando aspectos sombrios e enfatizando elementos de aventura e entretenimento. Introduziu personagens adicionais e ofereceu final feliz em que Pinóquio se tornou um menino de verdade após provar seu valor e lealdade. Essas adaptações diferem em tom, estilo e ênfase narrativa, mas ambas compartilham a essência da jornada de Pinóquio em busca do amadurecimento e redenção. A história original destaca a importância do arrependimento e do crescimento pessoal, enquanto a adaptação da Disney enfatiza a amizade e a coragem.

Pinóquio é onipresente na cultura italiana: muito constante em produções teatrais, espetáculos de marionetes e até mesmo em contextos políticos e sociais. Pinóquio transcende o status de mero personagem: símbolo da imaginação humana e do poder transformador da literatura.

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